Paradigma dos macacos

Ao longo do tempo, muitas das práticas enraizadas na nossa sociedade são mantidas simplesmente porque nunca foram postas em causa. Dois vídeos ilustrativos, mostrados nas aulas, ajudam-nos a refletir sobre este fenómeno, tão presente, ainda hoje, no sistema educativo: um sobre um grupo de primatas que adota comportamentos sem saber porquê, e outro que denuncia o erro de julgar todos da mesma forma, ignorando as suas especificidades.
O primeiro exemplo apresenta uma experiência onde um grupo de macacos é colocado numa jaula com uma escada e bananas no topo. Sempre que um macaco tenta pegar a banana, todos são punidos com um jato de água fria que demonstra como certos comportamentos se perpetuam sem que exista uma razão lógica. Com o tempo, mesmo quando essa punição desaparece, os novos membros continuam a agir da mesma forma, apenas porque assim foram ensinados pelos que os antecederam. Ninguém questiona, ninguém contesta — apenas repetem o comportamento herdado. Esta metáfora serve de alerta para percebermos o quanto, em várias áreas, se faz algo apenas porque "sempre foi assim", sem que se procure compreender ou melhorar o que está estabelecido.
No segundo vídeo, recorre-se à conhecida frase atribuída a Einstein para denunciar um sistema educativo que trata todos os alunos como se fossem iguais. A ideia de avaliar um peixe pela sua capacidade de subir a uma árvore é absurda, mas é precisamente isso que muitas vezes acontece nas salas de aula: alunos diferentes, com ritmos, talentos e interesses distintos, são sujeitos ao mesmo tipo de ensino, às mesmas avaliações e às mesmas expectativas. Tal como o peixe nunca será bem-sucedido a subir árvores, também há alunos que, dentro do modelo atual, nunca conseguem brilhar, não por falta de capacidades, mas por não lhes ser permitido aprender da forma que melhor se adequa ao seu perfil.
Este paralelismo é evidente no modelo escolar ainda dominante, que assenta num formato criado há mais de um século, com base nas necessidades da era industrial. Organiza-se o ensino de forma hierarquizada, uniforme, focada na transmissão passiva de conteúdos e na avaliação padronizada. Contudo, o mundo à nossa volta já evoluiu — temos novas formas de comunicar, acesso quase ilimitado à informação, vivemos num mundo digital e interativo — e a escola, paradoxalmente, pouco mudou.
Para além disso, insiste-se em uniformizar o ensino, quando é evidente que cada estudante aprende de forma diferente. Esta padronização desconsidera a individualidade, desvaloriza as inteligências múltiplas e contribui para a perda de motivação. Muitos alunos acabam por acreditar que não são capazes, quando, na verdade, apenas não foram ensinados de forma adequada às suas necessidades.
Diante disto, impõe-se uma reflexão urgente: como podemos reinventar a educação para que responda aos desafios do presente e do futuro? Em vez de repetir modelos ultrapassados, deveríamos apostar num ensino mais dinâmico e centrado no aluno, onde se promova a participação ativa, o pensamento crítico, o trabalho colaborativo e o uso inteligente das tecnologias. É essencial desenvolver competências para além do conhecimento teórico: a resolução de problemas reais, a criatividade, a empatia e a capacidade de adaptação devem ser pilares do processo educativo.
É preciso, acima de tudo, questionar. Por que motivo ensinamos desta forma? A quem serve este modelo? E, mais importante, faz ainda sentido? Tal como os macacos, corremos o risco de seguir regras e práticas cujo propósito já não existe. Reformular a educação exige coragem, visão e abertura à mudança. Não basta ensinar conteúdos — temos a responsabilidade de formar pessoas completas, conscientes e preparadas para um mundo em constante transformação. O papel da escola deve ser o de um espaço onde se cresce, se descobre, se erra e se aprende. Um espaço onde cada aluno possa encontrar a sua árvore — ou o seu mar — e tenha a liberdade e os meios para aprender a nadar, a subir ou a voar.