Motivação

A motivação funciona como uma força interior que dá sentido e direção às ações humanas. É ela que alimenta o empenho, sustenta o esforço ao longo do tempo e determina o grau de envolvimento numa tarefa. Nos contextos da educação e do desporto, perceber como este impulso atua é fundamental para construir espaços que favoreçam a participação, o crescimento pessoal e o bem-estar dos alunos.
A Teoria da Autodeterminação (TAD), proposta por Deci e Ryan, oferece uma visão profunda e abrangente da motivação humana, especialmente relevante para quem trabalha em contextos educativos e desportivos. Esta teoria parte da premissa de que todos os seres humanos têm uma tendência inata para crescer, aprender e desenvolver-se, mas esse processo só se concretiza de forma saudável e sustentável quando estão satisfeitas três necessidades psicológicas básicas: a autonomia (sentir que as decisões são tomadas com liberdade e por vontade própria), a competência (sentir-se eficaz e capaz nas tarefas) e o relacionamento (sentir-se ligado, valorizado e aceite pelos outros).
A TAD apresenta a motivação como um continuum que vai desde a amotivação — em que a pessoa não encontra qualquer sentido ou interesse na tarefa — até à motivação intrínseca, onde a atividade é prazerosa, porque se sente bem a fazê-la, sem depender de pressões externas ou objetivos secundários. É este tipo de motivação que promove maior envolvimento, criatividade, persistência e satisfação.
No meio deste percurso encontram-se várias formas de motivação extrínseca, que diferem consoante o grau de autodeterminação envolvido, temos a regulação externa, onde a pessoa age por recompensas ou para evitar punições — por exemplo, "estudo porque senão os meus pais zangam-se comigo". Segue-se a regulação introjetada, guiada por sentimentos de culpa ou obrigação interna — "vou treinar porque senão sinto-me mal comigo mesmo". A regulação identificada já representa um avanço no sentido da autonomia, pois a pessoa reconhece a importância da tarefa — "treino porque sei que é importante para a minha saúde e bem-estar". A regulação integrada é o nível mais alto dentro da motivação extrínseca, em que a atividade está alinhada com os valores e identidade do indivíduo — "sou atleta, isso faz parte de quem eu sou".
Finalmente, no topo da autodeterminação, encontramos a motivação intrínseca — quando a pessoa realiza a atividade simplesmente p
Neste sentido, o papel do professor ou treinador é absolutamente decisivo. Para que os alunos alcancem esse nível de autodeterminação, é essencial que o ambiente das aulas ou treinos esteja estruturado de forma a satisfazer as suas necessidades psicológicas básicas. Devem sentir que têm voz e escolha no seu processo (autonomia), que são capazes e reconhecidos pelo seu esforço (competência), e que pertencem a um grupo onde são respeitados e valorizados (relacionamento). Só assim será possível cultivar uma motivação intrínseca genuína, que sustente a aprendizagem e o desenvolvimento ao longo do tempo.
Quando cruzamos a TAD com o Modelo Transteórico das Fases de Mudança, de Prochaska e DiClemente, percebemos como estes dois modelos se complementam. Este modelo descreve o processo de mudança comportamental em cinco fases: pré-contemplação (a pessoa não tem intenção de mudar), contemplação (reconhece a necessidade de mudança mas ainda sem compromisso), preparação (pretende agir em breve), ação (inicia a mudança) e manutenção (consolida a nova prática). Para apoiar os alunos ou atletas em qualquer uma destas fases, podemos e devemos aplicar os princípios da TAD: promover o relacionamento na fase inicial, reforçar a autonomia durante a preparação e apoiar a competência durante a ação e manutenção.
Para mim, esta articulação entre TAD e o Modelo Transteórico é especialmente pertinente. A maioria de nós enfrenta múltiplas exigências — estudar, treinar, dar treinos, trabalhar — e manter a motivação nem sempre é fácil. Compreender estas teorias ajuda-nos a refletir sobre os nossos próprios processos e, mais importante ainda, a preparar-nos para criar ambientes motivadores e sustentáveis nos nossos futuros contextos profissionais. Ensinar ou treinar não é apenas transmitir conhecimento técnico, é, acima de tudo, criar condições humanas que favoreçam o envolvimento, o crescimento e o bem-estar. E é aqui que a autodeterminação se torna uma verdadeira aliada — porque só quem se sente livre, competente e ligado aos outros pode realmente dar o seu melhor.